quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

"2014, O ANO QUE NÃO HOUVE" OU "QUANDO AS CARAPUÇAS VESTEM À PERFEIÇÃO"

Há muitos meses, em oito de Janeiro exatamente, publicávamos uma pergunta sobre o novo ano que ali iniciava: Feliz 2015?

Longe da pretensão de pitonisa, o que se vislumbrava era o transcurso de um ano atribulado, marcado pela ausência de investimentos, pelo definhar da indústria e por diversos outros paralelepípedos sociais, políticos e econômicos. O tempo encarregou-se de confirmar o temor e 2014 tornou-se o ano que não houve. Carnaval insosso, uma super-faturada Copa do Mundo para esquecer sob qualquer prisma que seja, um sórdido período de campanha política cujos maiores destaques foram uma suspeitíssima morte do político indesejado pela situação e o festival de ignonímias, baixarias, mentiras e atropelos da lei que jamais foi visto na história das democracias livres.

Agora que se aproxima 2015, começam a assombrar os novos escândalos que ainda não se descortinaram por completo e já ameaçam somar-se a outros ainda mais enérgicos (muito trocadilho, por favor) que borbulham na mídia teimosa e desafiadoramente investigativa que tanto revolta o reino enlameado.

Nesse contexto, surgem as mais interessantes pérolas do farto, do interminável, anedotário político nacional que até seria de alta comicidade não fora tão gigantesca tragédia. 

Nos bastidores apodrecidos da ópera bufa petista em seu quarto ato, mesclam-se atitudes do mais puro e genuíno (sim, trocadilho de novo) autoritarismo que tão bem caracteriza as esquerdas com outras em total oposição e que apenas revelam o tamanho das mentiras acusatórias atribuídas ao adversário recém esbulhado na enorme fraude eletrônica das urnas viciadas na origem. Um espetáculo promovido pelas  personalidades ciclotímicas desse (des)governo e por seu séquito de anões morais que constitui sua base par(a)lamentar. 

Assim, surgem as primeiras indicações de Ali Babá para seus quase quarenta ladrões titulados que pretendem dirigir os eternos punguistas infiltrados por todos os níveis da administração federal. Se os primeiros nomes ventilados em nada despertam nem parcas esperanças de alteração do quadro desolador que corrói nosso futuro, a surpresa será vê-los alcançar o próximo Dezembro, posto que o castelo de cartas já treme sob as brisas e dificilmente resistirá às fortes ventanias ou aos tornados que apontam logo ali no horizonte.

Como consciência e carácter são valores em extinção na classe política, o ambiente carregado de luzes que o conhecimento proporciona provoca seguidos atos falhos na corja amedrontada; olhares atentos podem perceber um quê de mea culpa a permear esse tíbio legislativo. 

Bastou uma declaração forte do mais vitorioso vencido, para a imediata assunção do que nem de leve fora afirmado; da frase "Na verdade, eu não perdi a eleição para um partido político. Eu perdi a eleição para uma organização criminosa que se instalou no seio de algumas empresas brasileiras patrocinadas por esse grupo político que aí está." saiu a cristalina revolta do presidente daquele partido instalado no ventre da culpa: "Já estamos interpelando o senador mineiro derrotado. Em seguida, processo crime no STF. O PT não leva recado para casa..." 

De tão apequenados por sua falência moral, de tão acovardados pelas evidências de corrupção endêmica e pela iminente debacle coletiva, atropelam-se em descaminhos e põem-se em serviços de prata falsa à espera da condenação. Mera questão de tempo, seu suporte contratado pela ideologia togada prepara-se para distender entendimentos, mudar roupagem e preservar as peles, sob os auspícios dos códigos legais que garantirão sua "traição" à causa. Se há algo imutável na natureza humana é sua capacidade de auto preservar-se diante das ameaças e não será diferente com aqueles deuses que humildemente se disfarçam de juízes...

Sua cada dia mais frágil base de apoio revela-se um tanto hesitante - como que mimetizando aqueles ratos que abandonam navios em naufrágio - e já ensaia uma certa distância aqui e ali dos predicados e ações exigidos pelo comando; o casco faz água e os baldes rareiam. São poucos os que oferecem a pele ao escalpo na linha de frente da defesa do que mais e mais se mostra indefensável. 

Lá em cima, no alto da montanha em que se refugia em absoluta mudez o outrora verborrágico errante, o infalível ser supremo que nada sabe, nada vê, mas a tudo oferece sua eterna verdade fictícia, as nuvens da pusilanimidade estão carregadas e prontas para desaguar no estertor de sua visível covardia. 

Se antes o que se via era um ano natimorto, o que se prenuncia agora é um período de profunda mudança, um ano de rupturas, reconstruções, soerguimento de valores esquecidos e vilipendiados, mas que somente será realidade com a manutenção e com o crescimento gradativo dessa indignação, com o aumento do tom na oratória oposicionista, com apoio irrestrito às forças da moralidade representadas pela parte livre da imprensa e pela solidez da Polícia Federal que ombreia um Ministério Público a cavaleiro da sordidez grassante do planalto central em respeito a sua vocação constitucional e, acima de tudo, com a constante mobilização da sociedade através das redes sociais, essa força incontrolável que atemoriza os falsos profetas e dissemina verdades.

Diante de uma oposição fortalecida pelo nascimento de uma nova força de oratória sustentada por mais de meio Brasil que não para de expressar sua tardia indignação, o status quo se esfarela e demonstra com clareza que a carapuça lhe serve à perfeição.